quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Nos Trilhos do Contrabando - Grande Rota das Cidades Amuralhadas



“Eu sou o coelho campal
Que em toda a parte faz cama
Anoiteço em Portugal
Amanheço em Espanha”

Esta quadra extraída da obra literária «Contrabando, delito mas não pecado» da autoria de Manuel Leal Freire, pedagogo, jurista, jornalista e sei lá que mais, pessoa de trato fácil e discurso fluente, com quem tive o prazer de privar, raiano, nascido em Bismula, concelho do Sabugal, encaixa na perfeição na zona de intervenção do consórcio transfronteiriço das cidades amuralhadas em que são partes o Município de Almeida e o Ayuntamiento de Ciudad Rodrigo (Espanha\Salamanca), entidades gestoras da GR 80 – Rota das Cidades Amuralhadas.
E é tanto assim que mal saímos de Almeida e quase sem que nos dêmos conta, já estamos a pedalar em território salamantino. Apenas os marcos de limite de fronteira e a linha de água formada pela Ribeira dos Tourões (também pode ser Toirões e até é o mais usual) deixam adivinhar que estamos em Espanha.
Inaugurada a 20 de Setembro, a GR 80 ou “Ruta de las Ciudades Amuralladas”, tem tudo para ser um itinerário altamente concorrido, especialmente por praticantes de BTT.
Os seus 110 Km desenvolvem-se por caminhos e veredas que foram outrora palco principal da Rota do Contrabando que tinha o seu epicentro exactamente em toda a envolvente a Vilar Formoso. A sul formando a chamada “raia seca” que incorporava os territórios da actual Reserva Natural da Serra da Malcata e a norte, a partir de S. Pedro do Rio Seco, os territórios de “Cima-Coa” ou terra quente, onde a Ribeira dos Tourões ocupa o lugar delimitador conjuntamente com o rio Águeda que, vindo da Serra das Mesas, traça a linha de fronteira desde Escarigo\Figueira Castelo Rodrigo até Barca de Alva.
Desde a inauguração, no passado dia 20 de Setembro, por mais duas vezes calcorreei estes fabulosos trilhos.
No passado Domingo por iniciativa da rapaziada da Covilhã.
Andava com alguma curiosidade em percorrer esta GR em condições ditas normais, pois aquando da sua inauguração deparei-me sempre com situações insusceptíveis de repetição. E estou a falar das muitas porteiras que fomos encontrando ao longo de todo o itinerário, sempre abertas. Situação que muito dificilmente se voltaria a repetir.
E aquando da segunda passagem encontrei de tudo um pouco: Porteiras fechadas apenas com um simples ferrolho, porteiras abertas e porteiras de tal modo cerradas que pura e simplesmente inviabilizavam a progressão.
Saindo de Almeida na direcção de Vale de Coelha e depois de transposta a linha de fronteira delimitada pela Ribeira dos Toirões, que nesta época do ano apresenta o seu leito completamente seco, a progressão fez-se na direcção de Aldea del Obispo, Villar de Ciervo, Villar de la Yegua, Serranillo, de onde abordámos o Rio Águeda por trilho paralelo à "carretera" e fora das marcas da GR, onde está localizado o famoso núcleo de gravuras rupestres de Siega Verde e o seu Centro de Interpretação. 
Vale bem uma visita.
Em pendente ascendente até Castillejo de Martin Viejo, para uma longa paragem num café local, onde pudemos degustar uma grande variedade de “pinchos”. 
Altamente recomendável e a preços convidativos.
Logo após Castillejo de Martin Viejo foi-nos oferecida a possibilidade de observar quatro imponentes abutres num cenário único, de rara beleza.
Até Saelices el Chico a progressão fez-se em horizontes de larga beleza, onde as culturas forrageiras predominam e grandes manadas de bovinos vagueiam.
No entanto a partir daqui as coisas foram-se complicando.
Quase sem nos darmos conta estávamos num daqueles cenários que mais parecia saído da série “Soldados da Fortuna”: Rede de protecção, arame farpado, larga faixa de segurança, câmaras de vigilância a denunciar apertado controlo, lagoas de água esverdeada … viaturas, pavilhões e outros edifícios em acentuada degradação que se interceptavam com outros a demonstrar utilização e conforto. E tudo isto ao longo de uns bons Kms.
Para complicar um pouco total ausência de marcas identificadoras da GR e vedações a denunciar propriedade privada. Sem qualquer alternativa que não fosse seguir em frente.
Afinal todo este aparato tem justificação: Aqui se desenvolveu intensa exploração de urânio, cuja actividade cessou em 2000 estando actualmente em fase de recuperação ambiental, Será?
As marcas da GR só viríamos a encontrá-las nos pilares da ponte ferroviária, sobre o rio Águeda, já muito próximo de Ciudad Rodrigo.
A entrada em Ciudad Rodrigo fez-se em sentido ascendente, pela Puerta de la Colada, até à Plaza Mayor.
De regresso a Almeida, pelo lado sul, na direcção de Vilar Formoso, o trilho desenvolve-se sempre por largos estradões de terra. 
A paisagem vai-se alterando: As culturas forrageiras vão progressivamente dando lugar ao montado de azinha e as manadas de bovinos substituídas por varas de porcos pretos (ibéricos), num cenário encantador e ternorento, pois não raras vezes éramos abordados por estes simpáticos animais que mais não pretendiam do que uma pequena guloseima.
Porteiras e mais porteiras, algumas delas com os famosos "mata-burros" a simplificar a passagem.
Já depois de Gallegos de Argañan e bem próximo de Fuentes de Oñoro novo imprevisto: Porteira seguida de corte do trilho com recurso a vala e rede do tipo malha-sol, com cerca de 2 m de altura a não permitir grandes veleidades.
 Eu, como já sabia da sua existência, segui por caminho alternativo, no que fui acompanhado por um pequeno grupo, mas os mais adiantados só a muito custo conseguiram transpor tal obstáculo.
Em Vilar Formoso novamente fora do trilho, mas desta vez por opção e de novo em contacto com a Ribeira do Tourões. A partir daqui a paisagem vai sofrendo mutações: Os largos estradões cessam dando origem a veredas onde predomina o carvalho negral, a carrasqueira, a giesta e o pinheiro bravo, num cenário de grande beleza natural que se há-de prolongar até S. Pedro do Rio Seco.

Depois foi rolar a bem rolar até Almeida.

O dia bttistico terminou em amena confraternização no “Granitus” onde saciámos o apetite

Um público agradecimento à C. Municipal de Almeida que de forma desinteressada nos facultou os balneários do pavilhão desportivo onde nos foram disponibilizados banhos de água quente.

P.S. - Como não podia deixar de ser finalizámos este dia "bttistico" com uma "ginginha da Amélinha"


Algumas fotos:
































































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