segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Monte Farinha (ou Alto da Senhora da Graça)

Conta-se que em tempos idos, há muitos anos atrás, andava um pobre moleiro pelas terras de Basto, com uma velha carroça de madeira puxada por um velho jerico. O moleiro levava consigo um moinho, um “pio de piar” ou sanfona, que utilizava para transformar o milho em farinha. Numa dessas deslocações itinerantes, debaixo de sol escaldante, encontrou uma senhora que fazia o mesmo trajecto, mas a pé. Compadecido, ofereceu-se para a levar na sua carroça. Quando se aproximavam da citânia do Meão Grande (ou dos Palhaços), avistaram um grupo de mouros hostis. O homem açoitou o jerico para que alargasse o trote, de forma a escaparem. No meio de tamanha confusão o jumento acabaria por entalar uma das patas entre dois grandes pedregulhos, não conseguindo libertar-se. O moleiro saltou então da carroça para auxiliar o jumento. Entretanto, chegaram os mouros que o mataram. A senhora, com medo de ser também morta, saltou da carroça para uma grande pedra branca, que se encontrava à beira do caminho, e gritou: “Abre-te pedra! Faz-me esta graça"!. Por artes mágicas a pedra instantaneamente abriu-se, a senhora entrou, e voltou a fechar-se num ápice. Perante tal cenário, os mouros, aterrorizados, fugiram, deixando para trás os cereais e a farinha. Entretanto, o moinho, descontrolado, não mais parou de moer, formando um monte muito alto de farinha. Alertados, os habitantes das povoações vizinhas acorreram ao local, dizendo espantados: “Que montes de farinha!”
E assim surgiu o topónimo do "Monte Farinha"!

Quanto à senhora…, continua encerrada na "Pedra Alta" (localizada a meia encosta, a caminho da Senhora da Graça e que alguns dizem ser um megalito mas que na realidade é apenas obra da natureza). 

O povo reconhecido, atribuiu este acontecimento a Nossa Senhora, construindo, no cume do monte uma capelinha em sua honra como forma de agradecimento pela miraculosa ajuda.

E é também por este motivo que o Alto do Monte Farinha também é conhecido por Alto da Senhora da Graça.

Curiosidades da história popular!

O santuário, na estrutura actual, data de 1775.
O panorama daqui avistado é impressionante, de larga beleza e atrai, ano após ano, milhares de fiéis que no primeiro domingo de Setembro aqui se reúnem para a Grande Peregrinação Anual.

Para lá de toda a envolvência religiosa que lhe está subjacente, o Monte Farinha é local de referência no panorama desportivo nacional. Por aqui passam os maiores eventos nacionais nas vertentes de pedestrianismo, montanhismo, orientação, desportos motorizados e, sobretudo, ciclismo.
No que diz respeito ao ciclismo, a relação apaixonada das organizações da “Volta a Portugal” com o idílico local nunca se interrompeu, antes pelo contrário, vem-se fortalecendo e afirmando progressivamente ano após ano.
Desde a primeira subida da Volta a Portugal em Bicicleta à “Senhora da Graça”, no início dos anos 80, que esta etapa se tem realizado sucessivamente e se tem cotado como uma das etapas rainha da “Volta”.
Foram, pois, estas sensações que fomos experimentar à “Senhora da Graça”, com a nuance de coincidir com o primeiro Domingo de Setembro, dia de “Peregrinação Anual”.

Melhor era impossível!

De Mondim de Basto até ao Alto da Senhora da Graça serão cerca de 8,00 Km, sempre em ascendente. A estrada que lhe dá acesso é larga e o piso apresentou-se sempre em boas condições. Á medida que íamos trepando as marcas da “Volta” ia-mo-las encontrando de forma quase contínua.
Na parte final ainda fomos "abençoados" com a procissão da “Senhora da Graça”.
A pesar do elevado numero de fieis devotos circulámos razoavelmente bem em todo o perímetro da ermida e conseguimos mesmo visitar o seu interior sem quaisquer constrangimentos.

Engraçado como religioso e profano se misturam de forma (quase) harmoniosa!

Experiência única, recompensada pela brutal paisagem!

De retorno, em Mondim, fizemos uma muito longa “paragem técnica” na primeira pastelaria que encontrámos, para reposição de sólidos e líquidos (à base de vinho verde, bem fresquinho).

Escusado será dizer que depois do (improvável) repasto a vontade de pedalar escasseava, como tal decidimos "aligeirar" a volta. Estava prevista uma passagem pela Ecopista do Vale do Tâmega, onde já não fomos. Não ficou esquecida!

  Em Ermelo, os mais afoitos tomaram (re)vigoroso banho nas águas geladas do rio Olo, seguindo depois para o Café\Restaurante “Sabores do Alvão”, onde fomos exemplarmente atendidos. Serviço simples mas afável e sem demoras. Optámos pela vitela assada. Mas havia outras opções gastronómicas, tais como bacalhau com natas e cabrito assado (sob encomenda), que ainda tivemos oportunidade de provar.
O restaurante está devidamente sinalizado e é de fácil localização, bem no interior da aldeia, junto à igreja matriz.
Altamente recomendável!

Depois do almoço fomos espreitar as famosas “Fisgas de Ermelo”.
Até ao miradouro o acesso é feito por asfalto. Se bem que o melhor fica reservado para aqueles que pretendem ver mais de perto as famosas quedas de água do rio Olo, cujo acesso é feito exclusivamente por trilho de terra, que se me pareceu algo exigente, e que segue na continuação do de asfalto. Aqui, sim, senti a falta da amiga de "roda larga"!

São dias assim que eternamente nos prendem à bicicleta.

Para aqueles que pretendem fazer a subida em modo “racing” isto é imprimindo um ritmo mais vigoroso, poderá ser algo violento para o “conta rotações”. Tem a nuance de apresentar, pelo menos, três zonas de “descanso” onde é possível recuperar algum folgo e baixar as RPM.


Algumas imagens:



(O Monte Farinha na linha do horizonte)









(Mondim de Basto)







































(Ao fundo a aldeia de Ermelo)












(Ermelo)



(Restaurante "Sabores do Alvão, em Ermelo)









(Miradouro - Fisgas de Ermelo)

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