terça-feira, 20 de setembro de 2016

EM NOME DA ROSA!



O grande aliciante do btt é o contacto com a natureza que, associado a um empenhado companheirismo, torna esta actividade quase mágica. É, no entanto, altamente variável. Os humores meteorológicos e a sazonalidade criam condições muito próprias para a sua prática. As altas temperaturas aliadas à má condição dos trilhos (poeira, ausência de limpeza, silvas e, sobretudo, as moscas) fazem com que não nutra grande simpatia pela sua prática em época estival.
Não obstante estes condicionalismos, o btt é altamente viciante e gerador de motivações.
Em jeito de brincadeira, costumo até dizer que se realizar a mesma volta de btt duas ou três vezes por semana, nunca me parece igual.
O ciclismo de estrada, é muito menos variável e as condições para a sua prática estão quase sempre perfeitas.
Apenas as adversidades meteorológicas serão (eventualmente) geradoras de algum desconforto para a sua prática, mas que nem assim nos retiram da rotina e do exercício.

Não obstante a bicicleta de BTT apresentar uma maior versatilidade, o que é certo é que ultimamente as grandes voltas têm sido registadas em estrada.

A proposta p/ o fim-de-semana passado (Sábado) apresentada via Facebook, pelo Rui Sousa, um alfacinha que trocou as comodidades da capital pelo ar da Guarda, apresentava-se altamente aliciante:

Percurso de estrada, com inicio e fim em Ciudad Rodrigo e passagem pela Peña de Francia, La Alberca e Rio Batuecas e muitas pequenas localidade perdidas no tempo e no espaço.Com 138 km e 3500 metros de subidas, é para ser percorrido a baixa velocidade (a única que consigo +/- 20 km/h), parar em tascos e tirar muitas fotografias. Excepto em La Alberca, é melhor não contar com cafés e restaurantes e dependendo da temperatura, será preciso gerir bem a água. Saída da Guarda às 7:30, para começar a pedalar às 9:00 e terminar às 17:30, incluindo 1:30 de paragens. Tudo hora de Portugal. Quem se atreve?”

Não se previa grande adesão da rapaziada do pedal pois a distância, aliada ao acumulado de subida, apresentava-se altamente intimidatória.

O dia apresentou-se limpo e com temperaturas amenas, próprias de fim de Verão, óptimas para a prática da modalidade.

Afinal os 138 Km previstos transformar-se-iam em 100 Km efectivos e o acumulado ascendente atingiria os 2450 m (ou talvez até um pouco menos)!
A aventura começou e terminou um pouco mais à frente, em Serradilla del Arroyo, bem no interior do espaço protegido do Parque Natural de Las Batuecas – Sierra de Francia e prolongar-se-ia por Monsagro, Peña de Francia, La Alberca, Las Batuecas, Cabezo, Ladrillar, Riomalo de Arriba (aldeia praticamente em ruínas) e Serradilla del Llano.

O acesso à famosa “Peña de Francia” foi feito pelo lado poente.
Serão cerca de 26 Km, sempre em ascendente, com um pendente médio na ordem dos 5%, feitos com relativa facilidade, recompensados por agressiva e brutal paisagem.
O pico da “Sierra de Francia” com 1723 m de altitude, tem implantado no topo o santuário dedicado à “Virgen de la Peña de Francia”.
Lugar de culto e peregrinação cujas origens remontam ao Sec. XV.
O santuário forma um conjunto monumental que inclui a igreja, o convento, os miradouros\praça e hospedaria, construídos sob supervisão dos frades dominicanos.

A igreja, de estilo gótico, é formada por três naves sem qualquer tipo de ornamentação e alberga a imagem da Virgem Negra, que tem no seu interior os restos da antiga, deteriorada devido a roubo.

É impossível ficar-se indiferente diante de tanta sobriedade.

Adstrito à igreja está o austero convento, onde repousa o famoso “poço verde”, também digno de visita.

Por vezes chego até a pensar que “O Nome da Rosa”, baseado no romance homónimo de Umberto Eco e soberbamente interpretado por Sean Connery, no papel do frade franciscano Guilherme de Baskerville, chamado a resolver misteriosas mortes numa abadia medieval, foi idealizado na “Peña de Francia”!

Em La Alberca, demorada “paragem técnica” p/ reposição de energias, à base de “bocadillos de Jamon" e “tortilla”, acompanhados por refrescantes “cañas” como hidratantes!

O profundo Vale de las Batuecas é alcançado por serpenteante estrada que, a par da soberba paisagem que nos é oferecida, a todos encantou.
Autentico paraíso natural, tem na sua base o convento carmelita de San José, cuja fundação remonta a finais do Sec. XVI.
Aqui experimentámos o passadiço que se estende ao longo do rio Batuecas por uns bons 800 m!

Sair deste vale não se viria a revelar tarefa fácil: Cerca 22 Km em pendente ascendente que viriam a deixar mossa nos menos preparados, especialmente após Riomalo de Arriba onde a inclinação média não andaria muito longe dos 10%.

A aventura terminaria num botequim em Serradilla del Arroyo à volta de uma mesa, bem enfeitada com muita “mahou” e de uns “pinchos” de tomate, que se viriam a revelar excepcionais.

Excepcional foi também a companhia e a muita vontade de repetir o percurso.

Ao final do dia a minha aventura saldar-se-ia numa valente dor de pernas e dois furos na roda da frente da montada (suspeito de deficiência na fita interior).

Tem dias assim.

Um reparo: O percurso, embora apresentando uma altimetria considerável, não se me pareceu dos mais exigentes em termos físicos. É para fazer nas calmas, de forma a desfrutar da paisagem, sempre empolgante e soberba. Apresenta muitos pontos de água potável, tornando desnecessária a sua gestão.
Para comer: Garantidamente só mesmo em La Alberca, de visita obrigatória.


   Resumo do dia, já depois de editado o percurso:





Algumas imagens:


(O grupo em Serradilla del Arroyo)


(O primeiro furo)






 (A longa subida da Peña de Francia)







 






(La Alberca - Plaza Mayor)




 







  




 









 (O mentor do projecto - Rui Sousa)



2 comentários:

  1. Só lá fui uma vez e de BTT. Para fugir ao calor do vale de Monsagro à Peña foi sempre por alcatrão e já na altura disse que devia ser um mimo ir por ali de roda fina. Não foi desta com a vossa excelente companhia, mas... um dia destes :)

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