terça-feira, 11 de outubro de 2016

ATÉ CATÓBRIGA PELA VIA DALMÁCIA

Já por aqui tinha andado noutras ocasiões.
No ano passado numa voltinha idealizada pelo João Luis (Clube de Montanhismo da Guarda) e em 2014, de "roda fina" num projecto desenhado pelo Rui Sousa.
A aventura de 2015 viria a desenvolver-se à volta do Xálama e do "Caminho das Minas" que, no dizer do seu "projectista" seria apenas a 1.ª de uma triologia, não concretizada.
Na altura sobrou a muita vontade de calcorrear estes trilhos sem os "constrangimentos" então verificados, adicionando-lhe uma passagem pela Gata.
A falta de consenso quanto a uma data para a sua realização impeliu-me agora para a sua concretização.
Localizada no extremo noroeste da província de Cáceres, separada de Portugal por uma mera linha imaginária, a Serra de Gata, contigua à Reserva Natural da Serra da Malcata, constitui-se como um autêntico paraíso natural, prolongado pelos efeitos do isolamento geográfico a que tem sido votada toda esta região da Estremadura Leonesa.
Neste universo montanhoso predomina o carvalho mediterrânico, o castanheiro, o pinheiro, a oliveira e a azinheira, que nos embalam para os seus profundos vales.
As aldeias medievais, revestidas a ardósia, argila e granito, arejadas por estruturas de madeira de idade avançada, que lhes conferem um certo charme, transpiram história. Até a fala, que mistura termos desde o tempo da Reconquista Galaico-portuguesa com a cultura Asturo-leonesa, me pareceu soar a familiar.
Saindo de El Payo, de encontro à Via Dalmácia (romana), que ligava a antiga Miróbriga (Ciudad Rodrigo) a Catóbriga (Gata) e que seguiríamos num lanço de cerca de 5 Km até alcançarmos a localidade que dá nome a todo este extenso sistema montanhoso.
Impressiona o estado de conservação desta milenária via. E surpreendente foi a dureza da descida, apenas recompensada pela brutal e agreste paisagem. Um teste à resistência física e ao equipamento. A tudo se exigiu muito.
Foram diversas as paragens, quer para descanso, quer para apreciar a soberba paisagem que nos era proposta. Pelo meio alguns fontanários, devidamente identificados e a ermida dedicada a “San Blas”, um autêntico oásis no meio da aridez da montanha.
Bem próximo do casario a “Cruz do Gago” adverte-nos que a Via Dalmácia chega ao fim. Estamos na Gata, o que nos obriga a uma breve paragem para tomar umas “cañas” e a uns minutos de conversa com outros “bttistas” espanhóis que, tal como nós, também por ali pedalavam.
Aqui a grande surpresa acabaria por ser o inesperado bulício humano e o trânsito, algo caótico, pelas estreitas ruas do núcleo antigo.
Este pequeno município, com cerca de 1000 habitantes, transpira história. Os mouros apelidaram-na de Almenara.
A calçada desaparece, fazendo-se substituir por largos estradões, que se viriam a desenvolver entre densas matas de pinheiro, com excepção para um pequeno singletrack, bastante sujo, que nos haveria de conduzir ao rio Acebo, transposto pela “ponte velha”, também ela de matriz romana, antes de prosseguirmos pela estrada antiga até Hoyos.
Hoyos, a exemplo da Gata, com as suas estreitas ruas, forma um conjunto histórico muito compacto, de elevada harmonia.
A calçada (romana???) reaparece, para não mais nos largar.
Embora ciclável o trilho, praticamente todo ele em ascendente, viria a revelar-se de uma dureza extrema.
Alcançar Trevejo foi um alívio!
Trevejo viria a revelar-se uma autentica aldeia-fantasma, com pouco menos de uma vintena de habitantes. Um aglomerado de casas graníticas, onde as ruínas do castelo imperam e pouco mais. Tudo um pouco surreal e inesperado. Até o pequeno bar, onde fomos extremamente bem recebidos, só foi localizado graças ao ruído que vinha do seu interior.
Seguiu-se um troço de asfalto até bem próximo do “Caminho das Minas” onde, uma vez mais, o empedrado se impôs.
À falta de ”pernas” seguiram-se alguns momentos de “empurra-bike”.
Relativamente ao ano passado, a grande diferença residiria na ausência de vegetação, entretanto consumida por violento incêndio, ocorrido já depois da nossa passagem e que viria a deixar a descoberto toda a aridez da área.
Aprazíveis os fontanários que íamos encontrando ao longo do “Caminho das Minas”.
Não percorremos muitos Km. Cerca de 66, onde se incluem as pequenas falhas na leitura do GPS. O acumulado de subida, as calçadas e as inúmeras paragens para desfrutarmos da espectacularidade da paisagem, levaram-nos a concluir o traçado em cerca de 7,30 horas.
A Serra da Gata é um autentico paraíso para a prática de BTT/XCM e este fica, sem qualquer margem para dúvidas, como um dos melhores percursos que já fiz. Como dizia no final o Tó Condesso: Isto deveria ser de passagem obrigatória!


Algumas imagens:





(Via Dalmácia)









 (Gata - panorâmica)


 (Gata - desengaçando as uvas p/ fazer vinho)


(Gata - Rua típica)


 (Espanhóis)








 Rio Acebo - Ponte romana)


 (Rio Acebo - Ponte Nova)


 (Hoyo - panorâmica)







(Trevejo)




 (Jálama - Caminho das Minas)




 (Caminho das Minas)








 (Escombreira)


 (Panorâmica do Caminho das Minas)




(Não éramos os únicos utilizadores do caminho!...)











NOTA: Podem visualizar ou descarregar o TRACK aqui



1 comentário:

  1. Mais um reportagem de luxo! Gostei de ler e de ver as fotos. Acima de tudo gostei da partilha do track, eh eh. Muito obrigado e grande abraço a todos os elementos do grupo que tiveram a disponibilidade de realizar tão bonito percurso.
    João Valério

    ResponderEliminar