terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Outono na Estrela (2015)


“Na realidade trabalha-se com poucas cores. O que dá a ilusão do seu número é serem postas no seu justo lugar”

(Pablo Picasso)

São 6,45 horas do dia 15 de Novembro quando, sob um intenso manto de nevoeiro e na companhia do Luís Santos (Chapeiro), David Paredes e Pedro Tondela deixo Figueira de Castelo Rodrigo rumo a Manteigas.
Alguma apreensão relativamente às condições meteorológicas que se viriam, no entanto, a dissipar após a passagem pela Guarda, pois foi-nos oferecido um dia soalheiro com temperaturas a condizer.
 
Para muitos, a única época do ano para visitar o ponto mais alto de Portugal continental restringe-se ao Inverno, devido à neve, mas para nós o Outono é outra das épocas que torna obrigatória uma incursão pelo Parque Natural da Serra da Estrela.

Em Manteigas, juntar-nos-íamos ao pessoal amigo da Covilhã, ao Carlos Gabriel e ao Rui Daniel que, vindos de Vila Nova de Foz Côa e Moncorvo, respectivamente, por nós aguardavam junto ao Centro de BTT.

Do cardápio constavam 65 km, algo exigentes, com um acumulado de subida a rondar os 2000 m ... smile emotion .... com passagem pelo Poço do Inferno, Reboleira, Vale da Amoreira, Fragusto, Gorgulhão, Corredor de Mouros, S. Lourenço, Faias, Cruz das Jogadas, Pousada de S. Lourenço, Vale do Rossim (se para tal houvesse tempo), Mondeguinho com paragem obrigatória no Ti Branquinho, finalizando em Manteigas.

De Manteigas ao Poço do Inferno serão cerca de 8 km de alcatrão em ascendente, feitos em jeito de aquecimento, de encontro à magistral cascata, um dos ícones do Parque Natural.

A panóplia de cores quentes que pinta a paisagem é tal que se torna difícil de a descrever. O verde, o amarelo, o laranja e o vermelho são predominantes. É o Outono em todo o seu esplendor neste incrível cenário proporcionado pela natureza, amenizado pelas chuvas de final de Outubro e início de Novembro.

O espectáculo assim se haveria de prolongar por muitos e bons Km, aliado a trilhos de excelência previamente seleccionados pelo Carlos Russo.

Brutal o singletrack que se seguiria à rampa de lançamento de parapente e que nos conduziria até Vale da Amoreira, onde transpusemos o rio Zêzere para a margem esquerda.

De Vale da Amoreira até ao Fragusto, mais 8 Km em pendente ascendente, extremamente transpirantes, recompensados pelo excelente reforço que nos foi proporcionado pela CR BIKESTUDIO com a prestimosa colaboração do Ricardo Ramos e da Cátia.

Até ao Gorgulhão foi um instante.

Antes de alcançarmos a Cruz das Jugadas passagem pela Mata de S. Lourenço, onde imperam as faias, que no pico do Verão oferecem frondosa sombra mas que nesta época do ano estão pejadas de uma cama de folhas que lhe conferem um tom "marron" simplesmente delicioso.

A Pousada de S. Lourenço só foi alcançada com a muita colaboração das redutoras!.... 

O que também não ficou defraudado foi o nosso apetite, aguçado com a perspectiva de saborear as famosas "sandochas" da D. Judite, no Ti Branquinho.

Como o tempo escasseava já não fomos ao Vale do Rossim. Não ficou esquecido!

Alucinante a descida desde as Penhas Douradas até Manteigas, pela Carvalheira (calçada romana).

Seriam 4,00 horas da tarde quando retornámos ao ponto da partida, em Manteigas, junto ao recém construido Centro de BTT.

Era tempo de voltar a casa.

Um agradecimento muito especial ao Rogério Cunha, fiel companheiro das longas subidas, pela soberba paciência que sempre exibiu para comigo. Não fora ele e seriam ainda mais penosas.

Como diz o slogan: Só eu sei porque não fico em casa!
Grande dia de BTT e de companheirismo, do puro.

Algumas fotos:




















































NOTA: Podem visualizar ou descarregar o TRACK do percurso aqui



segunda-feira, 16 de novembro de 2015

II MARATONA TERRA DO FERRO – TORRE DE MONCORVO


Dia 8 de Novembro foi dia de rumar até Torre de Moncorvo onde me foi dada a oportunidade de participar nesta 2.ª edição da maratona de Torre de Moncorvo
Pelo 2.º ano consecutivo a Autarquia promoveu e organizou este evento, direccionado a amantes de bicicleta todo o terreno (BTT).
Este ano o promotor disponibilizou dois percursos: A Maratona, com cerca de 60 Km, para os mais bem preparados e a meia maratona, com cerca de 40 km, para os mais jovens e menos bem preparados.
A oferta para este dia 8 de Novembro era muita e variada mas mesmo assim ainda compareceram à partida cerca de 80 praticantes da modalidade. Destaque para o numeroso grupo que veio do Mogadouro, Bragança, Macedo de Cavaleiros e de Salamanca, cujos elementos saíram daqui completamente rendidos a esta gente transmontana que tão bem os soube receber. A eles e a todos os restantes!
O dia, apesar de amanhecer com nevoeiro, viria apresentar-se solarengo, com temperaturas a rondar os 20 .ºC, óptimo para a pratica de modalidade.

A exemplo do que já sucedera no ano passado os participantes foram brindados com trilhos de excelência.

A soberba paisagem criada pela recém construída albufeira do Sabor não deixou ninguém indiferente e já na parte final, aquando da passagem pela Serra do Reborêdo, a todos foi oferecida visão privilegiada sobre Torre de Moncorvo. Não esquecendo a passagem pelas frondosas e cuidadas matas de carvalho mediterrânico, castanheiro e pinheiro nórdico da mata, integradas na PR1 TMC (Rota do Lobo) e PR2 TMC (Rota do Corso) e que exibiam os tons quentes tão característicos do Outono.

Tendo a grande maioria dos participantes optado pelo percurso longo que viria, no entanto, a apresentar-se bem durinho, com um acumulado de subida a rondar os 1500 m.

Destaque, ainda, para o laudo reforço com que fomos brindados em Souto da Velha, um autêntico banquete.

No final o tradicional almoço convívio onde foram entregues lembranças a alguns dos intervenientes, de que destacaria um presunto p/ o grupo mais numeroso.


Algumas imagens deste aprazível passeio:











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Gráfico de Altimetria:

















Podem visualizar ou descarregar o TRACK do percurso AQUI

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Nos Trilhos do Contrabando - Grande Rota das Cidades Amuralhadas



“Eu sou o coelho campal
Que em toda a parte faz cama
Anoiteço em Portugal
Amanheço em Espanha”

Esta quadra extraída da obra literária «Contrabando, delito mas não pecado» da autoria de Manuel Leal Freire, pedagogo, jurista, jornalista e sei lá que mais, pessoa de trato fácil e discurso fluente, com quem tive o prazer de privar, raiano, nascido em Bismula, concelho do Sabugal, encaixa na perfeição na zona de intervenção do consórcio transfronteiriço das cidades amuralhadas em que são partes o Município de Almeida e o Ayuntamiento de Ciudad Rodrigo (Espanha\Salamanca), entidades gestoras da GR 80 – Rota das Cidades Amuralhadas.
E é tanto assim que mal saímos de Almeida e quase sem que nos dêmos conta, já estamos a pedalar em território salamantino. Apenas os marcos de limite de fronteira e a linha de água formada pela Ribeira dos Tourões (também pode ser Toirões e até é o mais usual) deixam adivinhar que estamos em Espanha.
Inaugurada a 20 de Setembro, a GR 80 ou “Ruta de las Ciudades Amuralladas”, tem tudo para ser um itinerário altamente concorrido, especialmente por praticantes de BTT.
Os seus 110 Km desenvolvem-se por caminhos e veredas que foram outrora palco principal da Rota do Contrabando que tinha o seu epicentro exactamente em toda a envolvente a Vilar Formoso. A sul formando a chamada “raia seca” que incorporava os territórios da actual Reserva Natural da Serra da Malcata e a norte, a partir de S. Pedro do Rio Seco, os territórios de “Cima-Coa” ou terra quente, onde a Ribeira dos Tourões ocupa o lugar delimitador conjuntamente com o rio Águeda que, vindo da Serra das Mesas, traça a linha de fronteira desde Escarigo\Figueira Castelo Rodrigo até Barca de Alva.
Desde a inauguração, no passado dia 20 de Setembro, por mais duas vezes calcorreei estes fabulosos trilhos.
No passado Domingo por iniciativa da rapaziada da Covilhã.
Andava com alguma curiosidade em percorrer esta GR em condições ditas normais, pois aquando da sua inauguração deparei-me sempre com situações insusceptíveis de repetição. E estou a falar das muitas porteiras que fomos encontrando ao longo de todo o itinerário, sempre abertas. Situação que muito dificilmente se voltaria a repetir.
E aquando da segunda passagem encontrei de tudo um pouco: Porteiras fechadas apenas com um simples ferrolho, porteiras abertas e porteiras de tal modo cerradas que pura e simplesmente inviabilizavam a progressão.
Saindo de Almeida na direcção de Vale de Coelha e depois de transposta a linha de fronteira delimitada pela Ribeira dos Toirões, que nesta época do ano apresenta o seu leito completamente seco, a progressão fez-se na direcção de Aldea del Obispo, Villar de Ciervo, Villar de la Yegua, Serranillo, de onde abordámos o Rio Águeda por trilho paralelo à "carretera" e fora das marcas da GR, onde está localizado o famoso núcleo de gravuras rupestres de Siega Verde e o seu Centro de Interpretação. 
Vale bem uma visita.
Em pendente ascendente até Castillejo de Martin Viejo, para uma longa paragem num café local, onde pudemos degustar uma grande variedade de “pinchos”. 
Altamente recomendável e a preços convidativos.
Logo após Castillejo de Martin Viejo foi-nos oferecida a possibilidade de observar quatro imponentes abutres num cenário único, de rara beleza.
Até Saelices el Chico a progressão fez-se em horizontes de larga beleza, onde as culturas forrageiras predominam e grandes manadas de bovinos vagueiam.
No entanto a partir daqui as coisas foram-se complicando.
Quase sem nos darmos conta estávamos num daqueles cenários que mais parecia saído da série “Soldados da Fortuna”: Rede de protecção, arame farpado, larga faixa de segurança, câmaras de vigilância a denunciar apertado controlo, lagoas de água esverdeada … viaturas, pavilhões e outros edifícios em acentuada degradação que se interceptavam com outros a demonstrar utilização e conforto. E tudo isto ao longo de uns bons Kms.
Para complicar um pouco total ausência de marcas identificadoras da GR e vedações a denunciar propriedade privada. Sem qualquer alternativa que não fosse seguir em frente.
Afinal todo este aparato tem justificação: Aqui se desenvolveu intensa exploração de urânio, cuja actividade cessou em 2000 estando actualmente em fase de recuperação ambiental, Será?
As marcas da GR só viríamos a encontrá-las nos pilares da ponte ferroviária, sobre o rio Águeda, já muito próximo de Ciudad Rodrigo.
A entrada em Ciudad Rodrigo fez-se em sentido ascendente, pela Puerta de la Colada, até à Plaza Mayor.
De regresso a Almeida, pelo lado sul, na direcção de Vilar Formoso, o trilho desenvolve-se sempre por largos estradões de terra. 
A paisagem vai-se alterando: As culturas forrageiras vão progressivamente dando lugar ao montado de azinha e as manadas de bovinos substituídas por varas de porcos pretos (ibéricos), num cenário encantador e ternorento, pois não raras vezes éramos abordados por estes simpáticos animais que mais não pretendiam do que uma pequena guloseima.
Porteiras e mais porteiras, algumas delas com os famosos "mata-burros" a simplificar a passagem.
Já depois de Gallegos de Argañan e bem próximo de Fuentes de Oñoro novo imprevisto: Porteira seguida de corte do trilho com recurso a vala e rede do tipo malha-sol, com cerca de 2 m de altura a não permitir grandes veleidades.
 Eu, como já sabia da sua existência, segui por caminho alternativo, no que fui acompanhado por um pequeno grupo, mas os mais adiantados só a muito custo conseguiram transpor tal obstáculo.
Em Vilar Formoso novamente fora do trilho, mas desta vez por opção e de novo em contacto com a Ribeira do Tourões. A partir daqui a paisagem vai sofrendo mutações: Os largos estradões cessam dando origem a veredas onde predomina o carvalho negral, a carrasqueira, a giesta e o pinheiro bravo, num cenário de grande beleza natural que se há-de prolongar até S. Pedro do Rio Seco.

Depois foi rolar a bem rolar até Almeida.

O dia bttistico terminou em amena confraternização no “Granitus” onde saciámos o apetite

Um público agradecimento à C. Municipal de Almeida que de forma desinteressada nos facultou os balneários do pavilhão desportivo onde nos foram disponibilizados banhos de água quente.

P.S. - Como não podia deixar de ser finalizámos este dia "bttistico" com uma "ginginha da Amélinha"


Algumas fotos:
































































NOTA: Para visualizar ou descarregar o TRACK consulte o final "post" anterior