O grande
aliciante do btt é o contacto com a natureza que, associado a um empenhado companheirismo,
torna esta actividade quase mágica. É, no entanto, altamente variável. Os
humores meteorológicos e a sazonalidade criam condições muito próprias para a sua
prática. As altas temperaturas aliadas à má condição dos trilhos (poeira,
ausência de limpeza, silvas e, sobretudo, as moscas) fazem com que não nutra grande
simpatia pela sua prática em época estival.
Não obstante
estes condicionalismos, o btt é altamente viciante e
gerador de motivações.
Em jeito de
brincadeira, costumo até dizer que se realizar a mesma volta de btt duas ou
três vezes por semana, nunca me parece igual.
O ciclismo de estrada,
é muito menos variável e as condições para a sua prática estão quase sempre
perfeitas.
Apenas as
adversidades meteorológicas serão (eventualmente) geradoras de algum
desconforto para a sua prática, mas que nem assim nos retiram da rotina e do
exercício.
Não obstante a bicicleta de BTT
apresentar uma maior versatilidade, o que é certo é que ultimamente as grandes
voltas têm sido registadas em estrada.
A proposta p/ o fim-de-semana
passado (Sábado) apresentada via Facebook, pelo Rui Sousa, um alfacinha que
trocou as comodidades da capital pelo ar da Guarda, apresentava-se altamente
aliciante:
“Percurso de estrada, com inicio e fim em Ciudad Rodrigo e
passagem pela Peña de Francia, La
Alberca e Rio Batuecas e muitas pequenas localidade perdidas
no tempo e no espaço.Com 138
km e 3500
metros de subidas, é para ser percorrido a baixa
velocidade (a única que consigo +/- 20 km/h), parar em tascos e tirar muitas
fotografias. Excepto em La
Alberca, é melhor não contar com cafés e restaurantes e
dependendo da temperatura, será preciso gerir bem a água. Saída da Guarda às
7:30, para começar a pedalar às 9:00 e terminar às 17:30, incluindo 1:30 de
paragens. Tudo hora de Portugal. Quem se atreve?”
Não se previa grande adesão da
rapaziada do pedal pois a distância, aliada ao acumulado de subida,
apresentava-se altamente intimidatória.
O dia apresentou-se limpo e com
temperaturas amenas, próprias de fim de Verão, óptimas para a prática da
modalidade.
Afinal os 138 Km previstos
transformar-se-iam em 100 Km
efectivos e o acumulado ascendente atingiria os 2450 m (ou talvez até um
pouco menos)!
A aventura começou e terminou um
pouco mais à frente, em Serradilla del Arroyo, bem no interior do espaço
protegido do Parque Natural de Las Batuecas – Sierra de Francia e
prolongar-se-ia por Monsagro, Peña de Francia, La
Alberca, Las Batuecas, Cabezo, Ladrillar, Riomalo de Arriba
(aldeia praticamente em ruínas) e Serradilla del Llano.
O acesso à famosa “Peña
de Francia” foi feito pelo lado poente.
Serão cerca de 26 Km, sempre em ascendente,
com um pendente médio na ordem dos 5%, feitos com relativa facilidade,
recompensados por agressiva e brutal paisagem.
O pico da “Sierra de Francia” com
1723 m
de altitude, tem implantado no topo o santuário dedicado à “Virgen de la Peña de Francia”.
Lugar de culto e peregrinação cujas
origens remontam ao Sec. XV.
O santuário forma um conjunto monumental que
inclui a igreja, o convento, os miradouros\praça e hospedaria,
construídos sob supervisão dos frades dominicanos.
A igreja, de estilo gótico, é
formada por três naves sem qualquer tipo de ornamentação e alberga a imagem da
Virgem Negra, que tem no seu interior os restos da antiga, deteriorada devido a
roubo.
É impossível ficar-se indiferente
diante de tanta sobriedade.
Adstrito à igreja está o austero
convento, onde repousa o famoso “poço verde”, também digno de visita.
Por vezes chego até a pensar que
“O Nome da Rosa”, baseado no romance homónimo de Umberto Eco e soberbamente
interpretado por Sean Connery, no papel do frade franciscano Guilherme de
Baskerville, chamado a resolver misteriosas
mortes numa abadia medieval, foi idealizado na “Peña de Francia”!
Em
La Alberca, demorada
“paragem técnica” p/ reposição de energias, à base de “bocadillos de Jamon" e
“tortilla”, acompanhados por refrescantes “cañas” como hidratantes!
O profundo
Vale de las Batuecas é
alcançado por serpenteante estrada que, a par da soberba paisagem que nos é
oferecida, a todos encantou.
Autentico paraíso natural, tem na sua base o convento
carmelita de
San José, cuja fundação remonta a finais do Sec. XVI.
Aqui experimentámos o passadiço
que se estende ao longo do rio Batuecas por uns bons 800 m!
Sair deste vale não se
viria a revelar tarefa fácil: Cerca 22 Km em pendente ascendente que viriam a
deixar mossa nos menos preparados, especialmente após Riomalo de Arriba
onde a inclinação média não andaria muito longe dos 10%.
A aventura terminaria num
botequim em Serradilla del Arroyo à volta de uma mesa, bem enfeitada com muita
“mahou” e de uns “pinchos” de tomate, que se viriam a revelar excepcionais.
Excepcional foi também a
companhia e a muita vontade de repetir o percurso.
Ao final do dia a minha aventura
saldar-se-ia numa valente dor de pernas e dois furos na roda da frente da
montada (suspeito de deficiência na fita interior).
Tem dias assim.
Um reparo: O percurso,
embora apresentando uma altimetria considerável, não se me pareceu dos mais
exigentes em termos físicos. É para fazer nas calmas, de forma a desfrutar da
paisagem, sempre empolgante e soberba. Apresenta muitos pontos de água potável,
tornando desnecessária a sua gestão.
Para comer: Garantidamente só
mesmo em La Alberca,
de visita obrigatória.
Resumo do dia, já depois de editado o percurso:
Algumas imagens:
(O grupo em Serradilla del Arroyo)
(O primeiro furo)
(A longa subida da Peña de Francia)
(La Alberca - Plaza Mayor)
(O mentor do projecto - Rui Sousa)