Infinito...
Em que
é que pensamos quando ouvimos esta palavra? Em números enormes, incalculáveis cifras que vão muito para além do que a nossa
imaginação possa consentir!...
Um céu imenso, sem nunca mais acabar!...
Cada um
de nós pensará certamente uma coisa diferente, precisamente porque o conceito
do infinito não tem por base nenhuma experiência sensível.
O
infinito é uma espécie de enigma, porque o seu conteúdo será sempre
inesgotável.
Para lá
de outros conceitos metafísicos que nos transcendem, o termo pode aplicar-se
tanto em concepções matemáticas, como à nossa vivencia pelo mundo que nos rodeia.
E é
exactamente assim que penso quando observo a famosa “Rota dos Túneis”, assente na
margem direita do rio Águeda, aqui bem perto de casa e onde o "infinito" parece
ter acontecido.
A linha férrea internacional, no
troço compreendido entre as estações portuguesa de Barca de Alva e a espanhola
de La Fuente de San Esteban-Boadilla, conectava Portugal a
Espanha e a sua construção decorreu entre os anos de 1883 e 1887 a expensas de
empresários portugueses, não obstante se encontrar em território Espanhol, cujo
financiamento seria garantido pelo Sindicato Portuense, constituído para o
efeito, formado por bancos portuenses e pela Companhia de Ferro Peninsular.
Obra de elevada complexidade
técnica, onde se verificou a necessidade de vencer um declive de cerca de 21%,
devido à complicada orografia do terreno.
O traçado evolui ao longo da
margem direita do rio Águeda, onde foi necessário construir 12 pontes metálicas
e escavar 20 túneis, sendo que o maior, nas proximidades da estação de La
Fregeneda tem cerca de 2 Km.
Considerada à data a maior obra
de engenharia peninsular do Séc. XIX, na sua construção chegaram a trabalhar
cerca de 20 000 operários.
Encerrada ao tráfego ferroviário
a 1 de Janeiro de 1985 e posteriormente declarada Bem de Interesse Nacional com
a categoria de Monumento, tem recebido inspecções e intervenções pontuais,
sobretudo a nível das pontes, tornando-as 100% seguras.
É evidente que o encerramento da via
férrea ao tráfego tem acarretado consequências para as infra-estruturas
desactivadas. Degradação progressiva, crescimento da vegetação,
descaracterização do património e actos de vandalismo, que são bem visíveis ao
longo do traçado.
Não obstante tudo isto
converteu-se num dos lugares mais atractivos do PNAD – Parque Natural de
Arribes de Duero - para a prática de pedestrianismo, devido a sucessão de túneis
e pontes e à paisagem vertiginosa que se observa sobre o vale escarpado do
Águeda.
O itinerário proposto, que há muito fazia parte do meu imaginário “bttistico”, viria a concretizar-se
no passado Domingo (05/07).
Saindo de Figueira C. Rodrigo em
direcção a Barca de Alva, onde cruzaríamos a fronteira
pela ponte internacional rodoviária, sobre o rio Águeda, junto à sua
desembocadura no Douro, até ao porto fluvial de Vega Terrón, localizado
imediatamente após aquela e de onde seguiríamos as marcas da GR 14 (Senda
de Duero) até às proximidades da desactivada Estação de La Fregeneda.
Algumas dificuldades em aceder à
desactivada estação devido às silvas que contornam os edifícios e
que vão tomando os acessos.
O túnel n.º 1, o mais extenso de
todo o trajecto, fomos encontrá-lo vedado por forte gradeamento,
de ambos os lados, mas cuja porta de acesso (lado norte) se encontrava aberta e
pela qual acedemos ao interior até ao seu términos e do qual só conseguimos
sair depois de galgar o cercado, fechado a cadeado.
O túnel n.º 3, em curva, também
se encontra protegido por robusto gradeamento, como forma de salvaguardar a colónia de morcegos que habita no seu interior. Aqui é proposto um
percurso alternativo pelo exterior, que o contorna. Percurso muito bem
sinalizado (marcas brancas e amarelas) mas de puro pedestrianismo e por onde
evoluímos, há falta de outra alternativa.
Para quem se desloca a pé,
existem buracos escavados que permitem com alguma facilidade a passagem quer
para o interior quer para o exterior dos túneis afectados.
A partir daqui foi a loucura
total.
Nos túneis, dadas as suas
características técnicas, a evolução teve que ser feita de forma apeada.
Quanto ao demais: A progressão
vai-se fazendo quer de um, quer do outro lado da via, sempre desfrutando da
vertiginosa paisagem que nos é proposta.
Outro aspecto negativo é o
crescimento da vegetação, em especial das silvas e dos cardos, que nos vão massacrando
as pernas ao longo de quase todo o percurso.
Se és apaixonado pela tua
bicicleta não te aconselho este trilho, pois nunca se magoa um ser por quem
estamos apaixonados, mas se amas a tua bicicleta e estás disposto a
consentir-lhe algumas mazelas então sim podes fazê-lo, mas fá-lo nos dias mais
curtos do ano.
No passado Domingo, quando retornámos a Barca de Alva a temperatura ambiente andaria pelos 40 ºC!
Na mochila deverão sempre meter muita
água, pois vão necessitar dela para hidratar, um bom reforço alimentar pois
irão ter pela frente uma jornada bem demorada e este é um trilho para desfrutar
em toda a sua plenitude. E, obrigatoriamente, uma boa lanterna frontal pois
alguns do túneis, além de longos, são em curva e como tal a escuridão é total.
E, por favor,nunca, mas nunca, percorram este trilho a solo: No mínimo com DOIS acompanhantes.
Voltarei a passar pela “Rota dos
Túneis”? Esta é uma daquelas "loucuras" que tinha que empreender, pois o meu “imaginário” assim
mo impunha, mas que dificilmente voltarei a repetir.
Nunca, mas nunca, digas nunca!