quarta-feira, 8 de julho de 2020

Rota dos Túneis - Entre La Fregeneda e Barca de Alva

Infinito...
Em que é que pensamos quando ouvimos esta palavra? Em números enormes, incalculáveis cifras que vão muito para além do que a nossa imaginação possa consentir!...
 Um céu imenso, sem nunca mais acabar!...
Cada um de nós pensará certamente uma coisa diferente, precisamente porque o conceito do infinito não tem por base nenhuma experiência sensível.  
O infinito é uma espécie de enigma, porque o seu conteúdo será sempre inesgotável.
Para lá de outros conceitos metafísicos que nos transcendem, o termo pode aplicar-se tanto em concepções matemáticas, como à nossa vivencia pelo mundo que nos rodeia.
E é exactamente assim que penso quando observo a famosa “Rota dos Túneis”, assente na margem direita do rio Águeda, aqui bem perto de casa e onde o "infinito" parece ter acontecido.
A linha férrea internacional, no troço compreendido entre as estações portuguesa de Barca de Alva e a espanhola de La Fuente de San Esteban-Boadilla, conectava Portugal a Espanha e a sua construção decorreu entre os anos de 1883 e 1887 a expensas de empresários portugueses, não obstante se encontrar em território Espanhol, cujo financiamento seria garantido pelo Sindicato Portuense, constituído para o efeito, formado por bancos portuenses e pela Companhia de Ferro Peninsular.
Obra de elevada complexidade técnica, onde se verificou a necessidade de vencer um declive de cerca de 21%, devido à complicada orografia do terreno.
O traçado evolui ao longo da margem direita do rio Águeda, onde foi necessário construir 12 pontes metálicas e escavar 20 túneis, sendo que o maior, nas proximidades da estação de La Fregeneda tem cerca de 2 Km.
Considerada à data a maior obra de engenharia peninsular do Séc. XIX, na sua construção chegaram a trabalhar cerca de 20 000 operários.
Encerrada ao tráfego ferroviário a 1 de Janeiro de 1985 e posteriormente declarada Bem de Interesse Nacional com a categoria de Monumento, tem recebido inspecções e intervenções pontuais, sobretudo a nível das pontes, tornando-as 100% seguras.
É evidente que o encerramento da via férrea ao tráfego tem acarretado consequências para as infra-estruturas desactivadas. Degradação progressiva, crescimento da vegetação, descaracterização do património e actos de vandalismo, que são bem visíveis ao longo do traçado.
Não obstante tudo isto converteu-se num dos lugares mais atractivos do PNAD – Parque Natural de Arribes de Duero - para a prática de pedestrianismo, devido a sucessão de túneis e pontes e à paisagem vertiginosa que se observa sobre o vale escarpado do Águeda.
O itinerário proposto, que há muito fazia parte do meu imaginário “bttistico”, viria a concretizar-se no passado Domingo (05/07).
Saindo de Figueira C. Rodrigo em direcção a Barca de Alva, onde cruzaríamos a fronteira pela ponte internacional rodoviária, sobre o rio Águeda, junto à sua desembocadura no Douro, até ao porto fluvial de Vega Terrón, localizado imediatamente após aquela e de onde seguiríamos as marcas da GR 14 (Senda de Duero) até às proximidades da desactivada Estação de La Fregeneda.
Algumas dificuldades em aceder à desactivada estação devido às silvas que contornam os edifícios e que vão tomando os acessos.
O túnel n.º 1, o mais extenso de todo o trajecto, fomos encontrá-lo vedado por forte gradeamento, de ambos os lados, mas cuja porta de acesso (lado norte) se encontrava aberta e pela qual acedemos ao interior até ao seu términos e do qual só conseguimos sair depois de galgar o cercado, fechado a cadeado.
O túnel n.º 3, em curva, também se encontra protegido por robusto gradeamento, como forma de salvaguardar a colónia de morcegos que habita no seu interior. Aqui é proposto um percurso alternativo pelo exterior, que o contorna. Percurso muito bem sinalizado (marcas brancas e amarelas) mas de puro pedestrianismo e por onde evoluímos, há falta de outra alternativa.
Para quem se desloca a pé, existem buracos escavados que permitem com alguma facilidade a passagem quer para o interior quer para o exterior dos túneis afectados.
A partir daqui foi a loucura total.
Nos túneis, dadas as suas características técnicas, a evolução teve que ser feita de forma apeada.
Quanto ao demais: A progressão vai-se fazendo quer de um, quer do outro lado da via, sempre desfrutando da vertiginosa paisagem que nos é proposta.
Outro aspecto negativo é o crescimento da vegetação, em especial das silvas e dos cardos, que nos vão massacrando as pernas ao longo de quase todo o percurso.

Se és apaixonado pela tua bicicleta não te aconselho este trilho, pois nunca se magoa um ser por quem estamos apaixonados, mas se amas a tua bicicleta e estás disposto a consentir-lhe algumas mazelas então sim podes fazê-lo, mas fá-lo nos dias mais curtos do ano.

No passado Domingo, quando retornámos a Barca de Alva a temperatura ambiente andaria pelos 40 ºC!
Na mochila deverão sempre meter muita água, pois vão necessitar dela para hidratar, um bom reforço alimentar pois irão ter pela frente uma jornada bem demorada e este é um trilho para desfrutar em toda a sua plenitude. E, obrigatoriamente, uma boa lanterna frontal pois alguns do túneis, além de longos, são em curva e como tal a escuridão é total.

E, por favor,nunca, mas nunca, percorram este trilho a solo: No mínimo com DOIS acompanhantes.

Voltarei a passar pela “Rota dos Túneis”? Esta é uma daquelas "loucuras" que tinha que empreender, pois o meu “imaginário” assim mo impunha, mas que dificilmente voltarei a repetir.

Nunca, mas nunca, digas nunca!


Podem visualizar ou descarregar o TRACK aqui























(Rota dos Túneis - panorâmica)



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