De carro, de barco, de comboio, de bicicleta ou a pé, todas estas
opções são válidas para (re)visitar o Vale do Douro.
Pode até ser uma viagem sem rumo definido, por algumas das idílicas
quintas que povoam o Vale, até há bem pouco tempo subvalorizado.
Pedalar por estes trilhos é uma experiência única. Chega-se aqui, ao
alto Douro vinhateiro, património da humanidade e olha-se para os socalcos,
esculpidos pela força das máquinas, carregados de vinhedos, onde sobressaem
enormes letreiros que as identificam e, de repente, sentímo-nos perdidos.
A bordejar o Parque Arqueológico do Côa, a Quinta da Erva Moira (ou de
Santa Maria, como por aqui lhe chamamos) e um pouco mais chegada a Almendra e a
Castelo Melhor a Quinta do Custódio. Já na encosta sul do Douro, a Quinta de
Castelo Melhor (Dourum).
Confinadas ao rio e à Ribeira de Aguiar as quintas da
Ferreirinha: A Quinta da Granja, do Castelo e da Leda, que agora ostentam o
topónimo da última.
Em todas elas podemos penetrar e nos envolver.
Sobranceiro ao Douro e
delimitado pela Ribeira de Aguiar, localizado num amplo e destacado cabeço
impõe-se a Calábria ou monte do Castelo, em cujo topo, aplanado, repousa imponente
linha de muralha e derrubes de estruturas de antigo povoado, que ainda não tive
coragem para escalar.
Saí de casa sem rota definida. Saí, literalmente, para desfrutar da bicicleta e acabei envolvido numa imensidão de cores outonais em pleno alto Douro vinhateiro!
Costumo dizer em jeito de brincadeira que não faço turismo na minha
aldeia.
E, no entanto, há sempre tanto para ver e fazer!
Assisti ao nascimento da GR 80 em Setembro de 2015 e desde então já a
repeti não sei quantas vezes.
E sempre que a faço não paro de me surpreender.
E, pelos vistos, não acontece só comigo, pois se assim fosse, no
passado Domingo, não se juntaria a mim uma dúzia de “maluquinhos” do pedal.
Há algo de mágico que nos empurra para estes trilhos que percorrem
ambos os lados da fronteira.
A meio da semana alguma apreensão pois as previsões meteorológicas não
agouravam nada de bom. As mais pessimistas apontavam para a queda de
precipitação em consequência da evolução do furacão Leslie, que atingiria
território continental sob a forma de depressão pós-tropical.
E efectivamente com a aproximação da tempestade, na noite de Sábado
para Domingo, o vento já se fazia sentir de forma intensa e, na manhã de
Domingo, o sibilar provocado pelas rajadas mais intensas parecia não constituir
um bom indicador e só a muito custo saí de casa, mais até para não defraudar as
expectativas do restante pessoal que por mim aguardava em Almeida.
Manhã que viria a exibir-se bastante fria, com o termómetro a apontar
para os 10.ºC, muita nébula e vento moderado, gerador de algum desconforto.
Algum cuidado na projecção da rota, eliminando troços mais monótonos que, quanto a mim, mais não
pretendem do que adicionar Km ao track.
Pouco passaria das 8,00 horas quando deixámos a praça forte de Almeida em direcção a
Vale de Coelha e à Ribeira dos Tourões (Toirões, na linguagem popular), que serve
de linha de fronteira e separa ambos os Países.
O trilho fomos encontrá-lo cuidado
e limpo, bem sinalizado e purgado das deficiências que lhe havia
apontado em passagens anteriores tais como a colocação de “mata-burros” junto
às porteiras fechadas. Não tivemos que abrir ou saltar uma única que fosse, o
que não deixa de ser confortável!
A meio caminho a primeira grande surpresa do dia: Um grupo de
“bttistas” do “Grupo de BTT El Pedal” que, sabendo da nossa passagem, pelas redes sociais, decidiu esperar-nos e acompanhar-nos até Ciudad Rodrigo, onde nos proporcionaram uma autêntica “visita-guiada”
pelo núcleo monumental da cidade, com especial destaque para a passagem pela zona
amuralhada que a envolve.
Percorremos a cidade de uma forma como nunca o havíamos feito.
E ainda nos brindaram com uns divinais “bocadillos”, acompanhados de refrescantes “cañas”, como complemento hidratante.
Impossível esquecer!
Ciudad Rodrigo, declarada conjunto Histórico-artístico, é uma velha
praça militar fortificada e as suas imponentes muralhas guardam riquíssimo
património de edifícios civis e militares, onde se destaca a catedral e a torre
de menagem. No exterior sobressai a velha ponte romana sobre o Rio Águeda
e o Mosteiro da Caridade, do Sec. XVI.
Tudo merecedor de demorada visita, que não concretizámos, nem íamos
para tal.
No final, em Almeida, ainda tentámos um lanche no “Granitus”, pois o
amigo Manuel Rodrigues havia-nos presenteado com umas botelhas de syria “Quinta dos Currais”, colheita de 2016, mas fomos simpaticamente informados que tal não seria possível em virtude de a cozinha estar encerrada.
Lá tivemos que "fazer boca" com uns pastéis de bacalhau e uns rissóis!
Feitas as contas, o saldo viria a revelar-se bem positivo e
altamente recomendável, tanto para os nativos como para os forasteiros!